Perséfone, rainha do submundo

Persefone e Hades

Perséfone (também escrito como Perséfassa, Perséfata, Persefoneia e Ferépafa) é a Deusa Rainha do Submundo e esposa do Deus Hades. É também a Deusa do crescimento da primavera, que era adorada ao lado de sua mãe Deméter (Deusa da agricultura, estações do ano, casamento e feminilidade) nos Mistérios de Elêusis.

Como Deusa Primaveril, ela abençoa as ervas, flores, frutos e perfumes, como Rainha das Sombras, ela é aquela que exerce seu poder e leva o efeito as maldições dos homens sobre as almas dos mortos, juntamente com seu marido. A história segundo a qual Perséfone passou parte do ano no mundo inferior, e outra com os Deuses acima, fez dela o símbolo da vegetação que brota na primavera e cujo poder se retira Terra em outras estações do ano.

persephonePerséfone, antes de ser raptada por Hades se chamava  Koré (Coré ou Cora) que significa “mulher jovem”, “donzela” ou “filha”. Seu nome no submundo significa “Aquela que destrói a luz”. Ela também já foi chamada de Auerna, Stygia e Hera Inferna pois era – assim como Hera era para o Olimpo – a rainha e esposa de um Deus infernal.

Perséfone geralmente é retratada como uma Deusa jovem, de olhos escuros e possuidora de uma beleza estonteante, segurando feixes de grãos e uma tocha flamejante. Às vezes, é mostrada na companhia de sua mãe, Deméter, e o herói Triptolemos, o professor de agricultura. Como Rainha do Submundo, ela é representada ao lado de seu marido, num trono de ébano.

Filha de Zeus e Deméter, Perséfone nasceu após o casamento de seu pai com Métis e antes do casamento com Hera. Criada no Olimpo, lar da nobreza divina, Perséfone foi sequestrada por Hades, mudando-se para o mundo inferior, morando uma parte do ano no Olimpo e outra no mundo dos mortos.

Apesar de Perséfone ter vários irmãos por parte de seu pai, Zeus, tais como Ares, Hermes, Dionísio, Atena, Hebe, Apolo, entre outros, por parte de sua mãe Deméter, tinha um irmão, Pluto, um deus secundário que presidia às riquezas. É um Deus pouco conhecido, e muito confundido como Plutão, o Deus romano que corresponde a Hades. Tinha também como irmã e irmão, filhos de sua mãe, uma Deusa chamada Despina e um equino chamado Árion. Despina foi abandonada pela mãe de ambas ao nascer. Por isso ela tinha inveja da deusa do mundo dos mortos, até porque Deméter se excedia em atenções para a rainha. Em resposta, a filha rejeitada destruía tudo que Perséfone e sua mãe amavam, o que resultaria no inverno.

A papoula foi-lhe dedicada por ter abrandado a dor de sua mãe na ocasião de seu rapto. O narciso também lhe é dedicado, pois estava colhendo esta flor quando foi surpreendida e raptada por Hades. A ela também eram associadas as serpentes.

Estátua de autoria de Dominikus Auliczek, nos jardins do Palácio Nymphenburg, na Alemanha.
Estátua de Dominikus Auliczek, no Palácio Nymphenburg, Alemanha.

Em seu mito podemos ver várias imagens arquetípicas importantes. Um deles é a imagem do rapto que representa um ritual de iniciação pertencente a ritos da vegetação. Normalmente, o rapto se consuma no outono, “quando os trabalhos agrícolas estão terminados”, os celeiros estão cheios e é, portanto, o momento de se pensar e preparar a próxima colheita (Brandão, 1986).

O rapto da noiva também era um costume entre os gregos e romanos onde a noiva sendo levada nos braços do noivo simula uma fuga e começa a gritar, pedindo o auxílio das mulheres que a acompanham. Psicologicamente isso significa que para a mulher o ato do casamento significa a morte. A morte de sua ligação com a mãe e de sua imaturidade enquanto mulher.

Koré representa a mulher presa a uma mãe dominadora e protetora que se deixa manipular por outras pessoas. Mesmo adulta está sempre voltada a mãe. O homem é visto como intruso nessa relação, sendo que somente um rapto, para se relacionar com ele.

Já como Perséfone ela representa o aspecto feminino que empreendeu a descida ao inconsciente e por isso é capaz de guiar os outros em suas jornadas. Ela alcança a autonomia sendo capaz de ir ao mundo interior quando necessário e de saber quando voltar renovada.

Perséfone é o arquétipo que nos auxilia em nossa descida a nossa própria profundeza. Ela é um guia, um psicopompo. O mito da Deusa nos lembra de nossa natureza cíclica e dual e da necessidade de fazermos um profundo mergulho dentro nós mesmas, indo ao encontro do que está reprimido e sombrio, do que pertence ao nosso inconsciente

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Persephone e Hades no submundo, C4th A.E.C.
Perséfone e Hades no submundo, vaso pintado no século 4 A.E.C.

Mitologia

Todos os que habitavam em Olimpo foram enfeitiçados pela beleza de Perséfone. Hermes ofereceu a sua vara como dom para decorar seu quarto (como preço da noiva para a mão dela em casamento), mas a oferta foi recusada por sua mãe, Deméter.

Ares, Apolo e Dioniso também cortejaram-na mas Deméter rejeitou todos os seus dons e escondeu sua filha longe da companhia dos Deuses.

Quando os sinais de sua grande beleza e feminilidade começaram a brilhar, em sua adolescência, chamou a atenção do deus Hades que a pediu em casamento. Zeus, sem sequer consultar Deméter, aquiesceu ao pedido e o aconselhou a carregá-la para o submundo já que  Deméter não era susceptível de permitir que sua filha seguisse com Hades.

Hades então emergiu da terra e raptou-a enquanto ela colhia flores com as ninfas Leucipe e Ciana, ou segundo os hinos Homéricos,  com as Deusas Atena e Ártemis. Hades levou-a para seus domínios, o mundo subterrâneo, desposando-a e fazendo dela sua rainha.

Sua mãe, inconsolável, acabou por descuidar de suas tarefas: as terras tornaram-se estéreis e houve escassez de alimentos. Deméter, depois de muito procurar, finalmente descobriu, com a ajuda de Hécate e suas tochas, que a jovem Deusa havia sido levada para o mundo dos mortos e, junto com Hermes, foi buscá-la no reino de Hades (ou segundo outras fontes, obrigou Zeus a pedir a Hades que enviasse Perséfone – ou Koré – de volta). Como entretanto Perséfone tinha comido algumas sementes de romã ela foi condenada ao mundo inferior e concluiu-se que não tinha rejeitado inteiramente Hades. Assim, estabeleceu-se um acordo, ela passaria um terço (mais tarde escritores dizer metade) de cada ano no mundo inferior com Hades, e os dois terços restantes com os Deuses acima. Justificando o ciclo anual das colheitas que florescem com sua subida a terra e fenecem com a tristeza de sua mãe quando Perséfone desce ao Reino Inferior.

persefone-e-hadesO mito fenício popular do amor da deusa Ashtarte por Adon foi adotado pelos gregos, que identificaram as Deusas do conto com Afrodite e Perséfone. Por causa da beleza infantil de Adonis, Afrodite escondeu-o em um baú, mantendo-o afastado dos Deuses, e deixouo infante com Perséfone. Mas quando Perséfone teve um vislumbre de Adonis, ela se recusou a devolvê-lo. Quando o assunto foi levado a Zeus para que ele decidisse com quem Adonis ficaria, Zeus dividiu o ano em três partes e decretou que Adonis passaria um terço do ano sozinho, um terço com Perséfone e o resto com Afrodite, mas quando Adonis se tornou maior, ele acrescentou sua própria porção à Afrodite de quem tornou-se amante.

É dito que Hades e Perséfone tinham uma relação calma e amorosa. As brigas eram raras, com exceção de quando Hades se sentiu atraído por uma ninfa chamada Minthe (ou Menta), e Perséfone, tomada de ciúmes, transformou a ninfa numa planta a “garden-mint” ou “hortelã”, destinada a vegetar nas entradas das cavernas ou, em outra versão, na porta de entrada do reino dos mortos.

Perséfone interferia nas decisões de Hades, sempre intercedendo a favor dos heróis e mortais, sempre disposta a receber e atender os mortais que visitavam o reino dos mortos à procura de ajuda. Apesar disso, os gregos a temiam e, salvo exceções, no dia a dia evitavam falar seu nome.

Perséphone & Hades. Vaso Ateniense pintado no século 5 A.E.C.
Perséphone & Hades. Vaso Ateniense pintado no século 5 A.E.C.

Perséfone, com Hades, é mãe das Erínias, personificações da vingança. Uma fonte bizantina afirma que ela e Hades também são pais de Macária, Deusa da boa morte.

Conta-se nos cultos órficos que Zeus, pai da Perséfone, seduziu a própria filha, sob a forma de uma serpente. Ela lhe deu um filho,  Zagreus, que, quando Zeus o colocou no trono do céu, foi atacado e desmembrado pelos Titãs. Seu coração foi recuperado e ele renasceu através de Semele como o deus Dionisio. Uma deusa infernal chamada Melinoe (associada a Hécate) também teria nascido de sua união.

Em outros mitos, Perséfone aparece exclusivamente como a Rainha do Submundo, recebendo heróis como Herácles e Orfeu em sua corte.

Em um obscuro mito, foi creditada à Perséfone a criação da humanidade a partir da argila (em lugar do usual Prometeu). Seguiu-se uma disputa divina sobre qual Deus deveria regê-lo, e como resultado foi concedido a Zeus e Gaia na vida, e à Perséfone na morte.

“Quando Koré estava cruzando um certo rio, ela viu uma lama argilosa, levantou-se pensativamente e começou a modelar um homem. Enquanto pensava no que tinha feito, Zeus apareceu; Koré pediu-lhe para dar a vida da imagem, e Zeus facilmente concedeu isso. Quando Koré quis dar-lhe o seu nome, Zeus proibiu e disse que seu nome deve ser dado. Mas enquanto eles estavam discutindo sobre quem nomearia aquele ser, Tellus ou Gaia, a  Terra, se levantou e disse que deveria ter seu nome, já que Ela tinha dado seu próprio corpo. Eles chamaram Cronos para ser o juiz da disputa e ele então decidiu: “Zeus, desde que você lhe deu vida e Gaia que lhe deu o corpo, seja dado o controle do destino dos homens e Persephone receberá o corpo depois da morte, já que Koré o formou, deixe que ela [Gaia] o possua enquanto viver, mas uma vez que há controvérsia sobre Seu nome, que ele seja chamado “Homo”, já que ele parece ser feito de húmus. ” (Pseudo-Hyginus, Fabulae 220 (trans. Grant) (Mitógrafo Romano C2nd A.D.))

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616602e01a26d988602e133b645af0b3O culto

Entre muitos rituais atribuídos à Deusa, cita-se que ninguém poderia morrer sem que a rainha do mundo dos mortos lhe cortasse o fio  que o ligava à vida.

O culto de Perséfone foi muito desenvolvido na Sicília, onde ela presidia aos funerais. Os amigos ou parentes do morto cortavam os cabelos e os jogavam numa fogueira em honra à Deusa das sombras. À ela, eram imolados cães, e os gregos acreditavam que Perséfone fazia reencontrar objetos perdidos.

Na Arcadia ela foi adorada sob o nome de Despoena, e foi associada a Poseidon Hippius e Deméter, e era dito que teria sido trazida pelo titã Anytus.

Segundo Homero, há bosques sagrados à Deusa na extremidade ocidental da terra, onde ficam as fronteiras do mundo inferior, que ele chama de “a casa de Perséfone”.

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Epítetos

  • Despina, significa senhora
  • Carpóforo (Karpophoros), significa frutífera
  • Ctônica, significa do submundo
  • Léptina, significa destruidora
  • Megala Thea, significa grande deusa
  • Protógona, significa primogênita
  • Sótira, significa salvadora
  • Hagne, significa sagrada
  • Deira, significa sábia
  • Praxídice, executora da justiça
  • Épene, significa temível

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Parentesco

• Filha de Zeus e Deméter mas Apolodo de Atenas diz que ela é filha de Zeus com Styx, a Deusa do rio Estige.
• Irmã de Ares, Dionísio, Hermes, Atena, Hebe, Apolo, entre outros (por parte de Zeus).
• Irmã de Pluto, Despina e um equino chamado Árion (por parte de Deméter).
• Esposa de Hades.
• Amante de Dionisio (os cultos órficos).
• Enamorou-se por de Héracles e teve Zagreu (a primeira reencarnação de Dioniso).
• Juntamente com Hades, foi mãe das Erínias e, segundo algumas fontes, também de Macária, a Deusa da Boa Morte.
• Antigos textos gregos dizem que Zeus se apaixonou por Perséfone e, juntos, tiveram Zagreus (ou Sabázio) e Melinoe.

 

Deusas com atributos semelhantes

  • Mitologia Celta: Olwen, Deusa da Primavera
  • Mitologia Egípcia: Ísis
  • Mitologia Grega: Pandora
  • Mitologia Romana: Prosérpina

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Guia rápido de Correspondências:

Invoque Perséfone para: fertilidade, geração, morte, proteção
Animais: Serpentes, abelhas
Aromas e ervas: papoula, narciso, alecrim e sálvia;
Bebida e comidas: romã, mel, cerveja, cidra pães e grãos em geral
Pedras: rubi
Cores: Vermelho, preto e branco
Face da Deusa: Donzela
Dia: 4 de janeiro (Koré) e 32 de maio (Perséfone e Hades)
Sabá: Equinócio do Outono
Signo: Virgem
Elemento: terra
Estação do ano: Primavera e verão
Símbolos: moedas, romãs, terra, flores

 

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Perséfone 
http://encenasaudemental.net/personagem/persefone-a-deusa-virgem-e-rainha-do-submundo/

http://www.maistato.com.br/2012/08/02/deusas-persefone/
http://www.clubedotaro.com.br/site/m32_02Titi.asp
http://www.theoi.com/Khthonios/Persephone.html


12 comentários sobre “Perséfone, rainha do submundo

  1. Olá, poderia fazer uma matéria sobre a Despina? Amo seu site porque é muito completo em conteúdo, a despina é uma deusa que quase não tem nada sobre ela e eu gostaria de saber mais

    1. Sim, eu também APOIO! Seria uma matéria incrível!
      A Deusa Despina é sempre esquecida e até invisibilizada nos mitos, pelo que sei ela seria conhecida como uma irmã “perdida e renegada” da própria Perséfone, sendo uma filha rejeitada de Demeter após esta ser violentada por Poseidon (ou algum outro deus), e até a parte da história em que “o Inverno e as geadas tomam os domínios da Primavera” é sempre creditado à tristeza de Demeter, mas NA VERDADE GELO E NEVE SÃO ATRIBUTOS DE DESPINA… E seria a resposta dela pela rejeição não só da mãe, mas de todos outros deuses e Deusas que costumam não reconhecer sua existência…
      Seria maravilhoso de fato saber mais versões desta história e seus arquétipos, incluso os da própria Despina… ❄💙❄☁❄

  2. PS.: Parabéns pelo site!
    Teu conteúdo é muito completo! E pude inclusive finalmente descobrir algo sobre Perséfone que ainda não sabia: o significado correto de seu nome…

    Gostaria também de ver matérias sobre Melinoe, Despina e Macária… Tal quais, de fora da mitologia grega, algo sobre Ataegina e Trebaruna…
    Todas as mencionadas são infelizmente Deusas que poucos conhecem e difíceis de encontrar conteúdo confiável!

  3. Minha Deusa querida eternamente! Ela foi (e é) meu início e meu caminho… Lembro-me que descobri minha ligação e forte identificação com ela ao acaso e de imediato com apenas quatorze anos… Aos ler seu nome pela primeira vez minha intuição me disse para pesquisar mais, com a insistência de uma certeza que poucas vezes se repetiu… E estava de fato certa! Conheço inúmeras outras divindades que desde então pesquiso, e nunca encontrei um espelho tão fiel de mim mesma como minha querida Perséfone!

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